sexta-feira, 18 de março de 2011

Desabafo¹: O encontro consigo mesma e o recomeço.

Ela teve tantas fases depois que tudo terminou...
Teve a fase da irradiante loucura libertária, aquela fase pós-fim na qual nos entregamos sem pensar pra tudo o que vier. Festas e festas e festas... bebidas, bebidas e bebidas...
Queremos fazer tudo o que não nos era permitido e o diabaquatro. PASSOU.
Depois teve a fase da falta. Da depressão. Do: "como eu vou viver agora?"
Passou por essa fase sem demonstrar. Sofreu sem chorar. Foi 'forte', mais nunca se libertou.
Aí veio a fase do costume, a gente vai pouco a pouco acostumando com a ausência. Acostumando com a dor, aí mandamos o mundo tomar no cú e nos sentimos muito bem com isso.
Daí a gente aprende a viver novamente, a andar sozinha, a tocar os pés no chão, a ser dona de si, a obedecer ao que der na telha.

Ela voltou a viver. O sopro de vida retornou.
Porém aquilo não estava morto, ela apenas guardou a dor. Num cantinho em que jamais seria mexido. E conviveu com ela todos esses dias... anos..
Ela foi feliz. Sorriu. Se apaixonou.
Brincou, bebeu, VIVEU.
Mas nunca tirou a dor de dentro de si. E de vez em quando aquilo voltava pra amargurá-la...

"ALGUÉM

Alguém me levou de mim
Alguém que eu não sei dizer
Alguém me levou daqui.
Alguém, esse nome estranho.
Alguém que não vi chegar
Alguém que não vi partir
Alguém, que se alguém encontrar,
Recomende que me devolva a mim."

Padre Fábio de Melo

Ela precisava de ajuda, de alguém, que despertasse nela o desejo de ser diferente.
Suas amigas foram seu porto seguro. Algumas tornaram-se mãe, irmã e até inimiga.
Encontrou apoio, colo. Só não encontrou consigo. Ela não estava lá...
Ela ainda se recusava a falar. Ela só queria esquecer, e falar competia lembrar.
Mais quem disse que ignorar é esquecer?
Ela ia levando, vivendo, penando e sofrendo.

Sua família ainda lembrava dele. Amavam ele. Ela nunca o amou. Ela deixou de se amar por ele...
Ele era um fantasma. Que assombrava, e que fazia sofrer pelo simples fato de ter existido.
Vinham as comparações dolorosas. Aquelas das quais eram impossíveis fugir, afinal ele tinha sido sua única referência de vida até então. A sequestrara. A mantinha no mesmo cativeiro de antes. Mas dessa vez a porta estava aberta. Mas porque não saía então?
Ela também não sabia. Não sabia o que a prendia, não sabia sequer porque continuara presa naquele passado que... Passou!

É isso, P-A-S-S-O-U!

Precisava se dar conta. Precisava se dar uma chance.
Raiva não tinha. Amor também não. Então? O que a prendia?
A dor. O medo. O talvez. A incerteza. O Trauma.
Tudo preso dentro dela e ela fingia que estava bem.
Tanta coisa boa passou depois disso e ela continuava com as comparações... Com os medos e com as lembranças...
Deixou de ser uma pessoa doce. Deixou todo o romantismo que tinha.
Tornou-se outra. Amarga, dura, fortalecida pela dor que ainda a atingia.

Aí ela chorou. Chorou por ela, por todos esses anos de dor e angústia, de medo e incerteza.
Chorou por ter ficado com seqüelas tão grandes que nem mesmo o tempo foi capaz de apagar.
Chorou por nunca ter chorado. Chorou por ter engolido o choro tantos anos.
Chorou apor se fingir de forte quando apenas precisava ser fraca. Chorou por ter desperdiçado tempo. Chorou por não se reconhecer mais...
Era um choro de dor. De mágoa.
Estava magoada consigo mesma por estar ainda presa quase 4 anos depois do fim.


Mais agora tudo mudava. Pessoas a ensinaram a deixar pra trás o passado, a enterrar seus medos, a se (re)descobrir novamente...

E é isso que ela vai fazer...

Ela, a partir de hoje, vai VIVER. Vai dar uma chance a si mesma. Vai recomeçar do zero. Vai queimar o passado. Vai, antes de tudo, amar a si mesma!

Egoísmo

Sinto falta de você.
Mas o que sinto falta é de tudo o que é seu e me falta.
Sinto falta de minhas faltas que em você não faltam.
Sinto falta do que eu gostaria de ser e que você já é.
Estranho jeito de carecer, de parecer amor.
Hoje, neste ímpeto de honestidade que me faz dizer,
Eu descobri minhas carências inconfessáveis que insisto em manter veladas.
Acessei o baú de minhas razões inconscientes
E descobri um motivo para não conitnuar mentindo.
Hoje eu quero lhe confessar o meu não amor, mesmo que pareça ser.
Eu não tenho o direito de adentrar o seu território
Com o objetivo de lhe roubar a escritura.
Amor só vale a pena se for para ampliar o que já temos.
Você era melhor antes de mim, e só agora posso ver.
Nessa vida de fachadas tão atraentes e fascinantes;
nestes tempos de retirados e retirantes, seqüestrados e seqüestradores,
A gente corre o risco de não saber exatamente quem somos.
Mas o tempo de saber já chegou.
Não quero mais conviver com meu lado obscuro,
E, por isso, ouso direcionar meus braços
Na direção da dose de honestidade que hoje me cabe.
Hoje quero lhe confessar meu egoísmo.
Quem sabe assim eu possa ainda que por um instante amar você de verdade.
Perdoe-me se meu amor chegou tarde demais,
Se meu querer bem é inoportuno e em hora errada.
É que hoje eu quero lhe confessar meu desatino,
Meu segredo tão desconcertante:
Ao dizer que sinto falta de você
Eu sinto falta é de mim mesmo.

Padre Fábio de Melo(Quem me Roubou de Mim)


/criis

2 comentários:

  1. Enquanto a gente tenta ser forte e não vive o luto... nunca esquece.

    Um conselho:

    Viva o luto intensamente!

    BeijozZz

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  2. Caramba! Fiquei até com medo agora, rs. Toda essa fase, toda ela, e até os quatro anos... Nossa! Me vi nesse texto.
    Parabéns, parabéns!

    Lindo o seu blog! Adorei! Agradecida por sua visita lá no meu.

    BeijoO

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